O futuro de Antonina é o passado
Norberto Gonçalves (de Curitiba)
Casarios, ruínas, ruas e calçamento de pedras seculares, são de fato, registros históricos de Antonina, rastros de um caminho que conta muita coisa e apontam um destino: o turismo cultural
O turismo é a maior potencialidade de Antonina em muitas modalidades, mas a vocação histórica é a atividade portuária. Hoje, o porto se tornou uma atividade altamente insustentável. Mesmo porque, por estar situada num estuário, o assoreamento é uma constância. Somado com a vazão ampliada do rio Cachoeira, que recebe as águas do rio Capivari através da jusante da Usina Parigot de Souza, o assoreamento se dá o ano inteiro como se fosse nas estações chuvosas.Esse fator estabelece uma necessidade diuturna de dragagem nos canais portuários, ampliando os ônus da atividade. Hoje, toda e qualquer atividade econômica tem que, obrigatoriamente, ser autosustentável e ecologicamente correta.
Mas a morbidez da cultura antoninense, que projeta para a cidade uma volta ao glamour do início do século XX, quando tinha uma efervescência econômica e cultural, coloca um véu ofuscante sobre o debate do desenvolvimento turístico.
Durante dois anos, a pesquisadora Anabela Leandro conviveu com moradores de Antonina. O que ela se propôs foi tentar compreender os fatores que provocaram o declínio econômico e cultural do lugar que, em tempos áureos, alojou o quarto maior e mais importante porto do País, o Barão de Teffé. E os resultados de seus estudos culminaram com a dissertação de mestrado Imagens fotográficas e memórias: uma incursão pelo passado da cidade de Antonina – PR, apresentada ao Departamento de Multimeios do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, sob a orientação do professor Etienne Samain.
A pesquisadora verificou com os moradores com os quais fez contato, que o que prevalecia de suas memórias e anseios era justamente o passado glorioso da cidade, que recebia com freqüência companhias de teatro e de música do mundo inteiro. A cidade tinha ainda acesso a produtos refinados, porque toda a demanda de importação e exportação passava por Antonina. Para um pequeno município de décadas passadas, até que era um fabuloso movimento para os moradores, tanto em termos culturais quanto econômicos.
Esse conceito parece sintetizar a opinião do fotógrafo Francisco Almeida, o Chiquinho, que disse à pesquisadora: “... o futuro de Antonina é o passado...” Pelo tom de desânimo com que pronunciou tais palavras, a pesquisadora deduziu que, o que se costuma relacionar ao “futuro” de uma cidade, o “progresso” já havia ficado para trás, e dificilmente esse desenvolvimento poderá ser retomado. Para Anabela, entretanto, “a colocação de Chiquinho também indica um outro caminho – de que o futuro de uma cidade e a sua condição de permanência estão unicamente na preservação da memória do lugarejo. Desde que esta memória seja trabalhada de maneira a atrair novos investimentos no campo do turismo e, assim, atenuar a atual crise da cidade, seja ela econômica ou cultural”.
A exploração do passado é, naturalmente, o caminho que deve ser traçado por Antonina. Exige, por exemplo, que as ruínas sejam preparadas para a visitação pública e contem a sua história. Mesma coisa com os casarios, o Theatro Municipal, a Estação Ferroviária, e todos os prédios históricos. Afinal, contar história é o nosso maior legado.