segunda-feira

REDE


Quando blogar faz mal

Ery Roberto Corrêa

A partir de exemplo que representa um fato típico, resultado de situação por que passa um pequeno município do Brasil, é possível compreender aonde pode levar o estado exacerbado de ansiedade provocado na população.

A simpática Antonina (70 km de Curitiba), litoral do Paraná, cidade portuária de vinte mil habitantes, nasceu cheia de belezas naturais. Sua respeitável história conta com um capítulo invejável que trata da vocação do seu povo para as artes.

Vítima nas últimas décadas das más administrações municipais, a terra capelista como é conhecida, tem empenhado todos os seus esforços na realização de único sonho que transforma as demais potencialidades em apenas pó: a operacionalização do seu porto.

A região litorânea do Estado, com extensão reduzida, conta com o Porto de Paranaguá, considerado em 2006 o maior terminal exportador de grãos da América Latina. Melhor localizado e por ser detentor de maiores recursos de navegabilidade para embarcações de grande calado, potencialmente equipado e por receber todos os investimentos governamentais, detém movimentações recordistas em suas diversas operações. Mesmo assim, aquela cidade não é isenta de problemas, crises e desmandos.

É notório, de há muito tempo, o descaso dedicado pelos sucessivos governos estaduais com a atividade em Antonina, quando se sabe que com certa boa vontade ao Terminal Ponta do Félix pudesse ser reservado o direcionamento de cargas próprias, para navios menores e com rotas específicas.

Deixarei de citar números. Qualquer pesquisa googlística é suficiente para instruir melhor avaliação através de dados.

Marcada pela mais desastrosa atuação de um alcaide nos últimos vinte anos, na administração encerrada em 31 de dezembro último, a cidade elegeu um prefeito exímio conhecedor dos seus mais dolorosos problemas. Carlos Augusto (Canduca) Machado, é pessoa de considerável competência, firmeza de propósitos, sensibilidade apurada, experiência administrativa e ilibado caráter.

Herdou da trágica atuação antecessora uma prefeitura falida. Segundo fontes fidedignas, no estado calamitoso deixado, que é produto de verdadeiro achaque aos bens públicos, o novo prefeito encontra dificuldades até para construir uma "fotografia" da situação – que, convenhamos, seria potencialmente útil como diagnóstico para esboçar um projeto concreto de governabilidade – por conta da inexistência completa de referenciais. A equipe anterior tratou de apagar os rastros e não há nenhum sistema de informações que se torne base confiável a recorrer. Sumiu, inclusive, parte da documentação física.

Uma situação deste porte não permite absolutamente nenhum planejamento antes que se reconstitua uma base mínima que sirva de amparo para desenhar projetos de curtíssimo prazo.

Todavia, parte do povo exige com impaciência. A formação do secretariado feriu suscetibilidades. Os preteridos passaram a engrossar o coro dos descontentes que partiram para o ataque desordenado, movidos por frustrações pessoais transformadas em lanças pontiagudas em verdadeira guerra medieval. Para tanto escolheram a rede como campo de batalha. Em paupérrima estratégia adotaram um formato de imprensa, a que denominaram "blogues antoninenses", de onde lançam seus ataques. Um deles foi categórico em conceder prazo ao prefeito, prometendo depois de expirado iniciar outro tipo de "atitude jornalística" (!).

Existem os moderados, mas que não deixam escapar oportunidades para revelar atitudes tendenciosas.

Situação desta natureza, sem possibilidade anterior de um mínimo interstício reservado à transição de governo, merece mais consideração de um povo. Como qualquer município do Brasil, Antonina, além da crise mundial, também sofreu cortes em suas arrecadações provindas do Fundo de Participação. E mais: não há atividade local potencialmente geradora de recursos para consecução de obras, mesmo reformas, em prazo imediato. É preciso antes de qualquer coisa honrar compromissos herdados e investir nos contatos de nível superior no Estado, na inglória tentativa de aliar políticos para uma sensibilização que resulte em ajuda considerável.

O prefeito escolheu este caminho. Diga-se, se não o único, aquele que pode vislumbrar alguma condição de iniciar mudanças em prazo de no mínimo um ano. Não é possível querer plantar sem antes cuidar do solo.

Enquanto isto, os descontentes insistem numa espécie de "governo paralelo". Empilham em posts sugestões desordenadas recebidas dos seus comentaristas "anônimos" (comportamento lamentável e repugnante, por eles justificado como forma de "não ser ameaçado"), revelam contatos com instâncias pseudomilagrosas, exercem impunemente o poder negativo da crítica pela crítica e até lançam candidatos a prefeito para a próxima eleição, antes mesmo da atual legislatura – com três meses de existência -, concluir um necessário relatório da situação e anunciar seus planos.

O mais interessante deste episódio é que estes mesmos cronistas da dita "imprensa capelista", desfilavam antes de outubro carregando as bandeiras eleitorais do Canduca. Transformaram-se, da noite para o dia, em inimigos públicos. Desconhecem literalmente as diferenças que a convivência política sugere a partir da assimilação do que seja inimigo e adversário político. Optaram pela crítica incontrolável e injustificada, até sarcástica, pelo bater porque lhes aumenta o prazer da vingança. Tudo em nome daquilo que é sagrado: a liberdade de expressão. Esquecem, no entanto, que não há qualquer liberdade sem responsabilidade.

Quero crer que a responsabilidade, caso existisse movida pelo pleno reconhecimento de tudo que já foi trazido a público, até por eles próprios, sobre o sucateamento do município no governo anterior, seria motivação para apoio ao atual alcaide em sua luta de resgate da dignidade de Antonina, dando-lhe apoio incondicional a qualquer tempo. Não a praticam, em absoluto. Decidiram pelo "envenenamento" das mentes dos cidadãos de bem. Pelo menos daqueles que já alcançaram a alfabetização digital.

Todavia, Canduca é inteligente. Ele conhece a terra onde nasceu e sua gente é testemunha da sua origem. Sabe do valor do povo e do que pode transformar. Tem planos concretos envolvendo a educação, cultura e o turismo, focos capazes de iluminar a seara para o plantio de um novo estilo de agir e ser, de um comércio atualizado, atividades correlatas e oportunidades para seus conterrâneos.

Antonina pode e deverá ampliar seus investimentos nos recursos naturais que possui. É possível desenvolver a indústria, dentre elas a de turismo voltada para a exploração da sua beleza, excelente localização, eventos já consagrados como o Carnaval (quando mais de 50 mil pessoas a visitam), o Festival de Inverno patrocinado há anos pela UFPR, a Festa da Padroeira Na. Senhora do Pilar, as temporadas de verão. Além disto, seu povo, sem efeito do veneno mortífero da imprensa maledicente e de colaboradores anônimos, é capaz de produzir atrações de porte pelas vias do seu talento nato: pintura, artesanato, gastronomia, teatro, manifestações folclóricas e danças (fandango), literatura e principalmente muita música. O capelista respira com a harmonia das notas que sabe compor e dos instrumentos que sabe executar.

Para quem acha que atividades simples decorrentes de talentos individuais nada representam em termos de geração de recursos, convém lembrar que incentivos às escolas de arte, academias, atividades esportivas e outras ajudam na educação das gerações, tornando-as menos suscetíveis à perdição das drogas em vista da desocupação. Só um povo sadio sabe pensar e se organizar.

Como priorizar ou ficar preocupado apenas com a alternativa mais difícil – a representada pela luta obcecada e infrutífera de sobrevivência do seu porto, diante deste mosaico de possibilidades diferentes?

Quando se quer mudar é preciso unificar propósitos. Não se separa o que é útil em hipótese alguma, ainda mais quando a motivação fica apenas no âmbito da mesquinhez. Gestos como acontecem nesses blogs não permitem que se acredite nem nas vírgulas tão mal colocadas dos seus posts.


O prefeito Canduca é advogado. Conheço-o desde 1975. Foi meu colega no Banco do Brasil durante vinte e um anos de labuta. Nossa amizade e convivência permitem-me avalizar todos os seus gestos,inclusive os da função atual, mesmo que eu seja um antoninense apenas de coração.